Pauta: Entrevista com o sócio benemérito do Bahia, Sr. Jorge Maia. Gostaríamos de saber sobre as histórias memoráveis e marcantes vividas como torcedor do Bahia e também sobre seu pai, um dos poucos sócios beneméritos do Bahia, falecido recentemente.

Perguntas:
1. Maia, durante todos esses anos de vida qual time do Bahia lhe deu mais emoção?
Resposta:
Por incrível que pareça, embora eu tivesse apenas com 11 anos de idade, foi o time de 1959, sem sombra de dúvidas. Depois do time de 59, o do heptacampeão baiano, na verdade, o time de 1970, que tinha grandes jogadores: começou com um ataque que era Natal, Douglas, Picolé e Peri, (no meio campo) Fito e Baiaco, a defesa era meio fraquinha, eu não me lembro muito bem não. (Risos),
2. Qual o melhor jogador do Bahia você viu jogar?
Resposta:
Eu vi muitos… Eu vou destacar um que não está tão longe, porque se eu fosse escolher do time de 1959, eu poderia destacar Alencar, mas eu vou destacar um jogador completo: Douglas Franklin. Jogador completo, o Bahia salvou ele da morte… Douglas era do Santos, só que ele teve um problema na carreira: ele era reserva de Pelé, só isso… Mas se eu listar aqui a quantidade de jogadores maravilhosos que foram reserva de Pelé, vocês vão cair o queixo, porque tinha muito jogador bom que tinha que mudar de clube por causa de Pelé. Douglas foi um deles. Outro jogador que eu gostava muito, que se entendia maravilhosamente com Douglas, era Picolé. Teve outro jogador no Bahia completíssimo, mas eu não vou colocar ele como o melhor que eu vi porque ele jogou pouco tempo no Bahia, que foi Sanfilippo. Jogador que veio pro Bangu a peso de ouro com Castor de Andrade bancando e não se adaptou bem lá. Aí o Bahia foi e contratou ele pra jogar aqui. Depois ele brigou com Maracajá, porque ele queria ser técnico, aí Maracajá não aceitou. Ele aí foi embora.
3. E o pior jogador?
Resposta:
Eu vou marcar esse porque ele veio de um time muito ruim. Porque muita gente critica muito a atual fase do Bahia, mas a pior fase do Bahia que eu vi, não vou falar em termos políticos, eu vou falar apenas dentro de campo, foi nos anos 60. Foi o período que o Bahia menos ganhou título foi na década de 60. O Bahia chegou ao cúmulo de trazer seis jogadores reservas do Náutico pra serem titulares aqui no Bahia, e foram, e foram campeões. O Bahia foi campeão em cima do Galícia que tinha uma seleção, roubado no apito de Armando Marques, (risos). Eu estava lá, o estádio inteiro cantando
: “é ou não é, piada de salão, um time de padeiro querer ser campeão”.
Mas eles mereciam, e o Bahia ganhou roubado. Dentre isso tudo, o pior jogador que me marcou, que eu dizia “eu não vou mais no estádio enquanto esse … tiver jogando”, foi um lateral esquerdo que ninguém se lembra dele chamado Souza, “Souzinha”, era ruim feito o cão (risos).
4. Fale da importância da sua família estando sempre ao seu lado, compartilhando as grandes emoções vividas como torcedor do Bahia?
Resposta:
Rapaz, veja bem, tudo começou com meu pai, ele era fanático pelo Bahia. Eu nunca vi meu pai, mesmo com essa revolução que eu e meus irmãos fizemos, meu pai nunca fez uma crítica ao Bahia, nem a nenhum dirigente do Bahia, nem a nenhum jogador do Bahia. Ele com 88 anos, ele assistia os jogos do Bahia, de vez em quando ele dava um chute na bola, mas ele não criticava, às vezes ele dizia “pô, como é que perde um gol desse”, mas ele nunca criticou o Bahia. Pra você ter uma ideia, vou lhe contar desde do início. Nós somos cinco irmãos, eu e mais quatro: meu pai ia pra o estádio, minha mãe tinha que levar todos cinco, inclusive os menores de berço, porque não tinha com quem deixar. Levava mamadeira, levava o “escambal”, uma porrada de coisas (risos), mas ia para o estádio da Fonte Nova velha ainda, que só tinha a parte de baixo, com todo mundo. Quer dizer, começou tudo daí… Depois meu pai se envolveu na Diretoria, tinha muito bom relacionamento com jogadores: ele trouxe Alencar do Ceará. Quando Alencar chegou aqui ficou hospedado lá em casa e fez uma amizade com a gente até o fim da vida dele. Alencar, ele vinha de Alagoinhas, aí passava lá na gráfica no bairro do Uruguai pra beijar a cabeça do meu pai, para você ter uma ideia.

5. Você tem uma lembrança forte do primeiro título do Bahia em 1959?
Resposta:
Olhe bem, eu tenho. Não tenho as imagens porque naquela época os jogos não eram televisionados, mais tinham fotos, tinham conversas… Eu fui no segundo jogo do Bahia aqui contra o Santos, que o Bahia perdeu, entendeu? Uma lembrança que eu tenho foi que no jogo de 3×1 lá, nós estávamos veraneando em Dias D’Ávila e a gente ficava ouvindo pelo rádio e a rádio sumia. E aí ficava todo mundo sem saber o que estava acontecendo (risos).
6. E em 1988 mais uma nova emoção. Você viajou para Porto Alegre naquele momento?
Resposta:
Não, eu vou lhe explicar o motivo. Lá na gráfica trabalhava meu pai e meus outros dois irmãos: aí todos eles resolveram ir e tinha que ficar alguém. Aí eu combinei com eles que eu iria na final da Libertadores (risos), porque a gente tinha aquela esperança, né? Aí ficou combinado assim, que eu iria pra final da Libertadores (risos)… Mas eu assisti aqui em casa. Eu tinha um amigo (ele não mora mais aqui), ele era flamenguista e ele me gozava: dizia que o Bahia não ia ganhar nada. Eu moro no décimo primeiro andar e ele morava no primeiro… Primeiro, que eu assisti ao jogo sozinho não deixei ninguém nem entrar no quarto… Aí quando o Bahia foi campeão eu desci os onze andares, quase que derrubo a porta do cara (risos),
7. Maia, seu pai foi um homem que teve uma participação muito marcante na história do Bahia. Você poderia nos falar um pouco da história desse grande homem?
Resposta:
Claro, vou te contar uma coisa que marcou muito a história do Bahia: o Bahia não tinha receita, a receita do Bahia eram os jogos amistosos, os jogos da bilheteria e o cheque do Conselheiro. Aí (eu não me lembro as datas), aí foi criado, alguém deu a ideia (eu não me lembro quem foi), de criar o Bolo Tricolor. O que era o Bolo Tricolor? É o que hoje é a Loteria Esportiva, só que era umas listas com sete jogos. Aí você pagava por assinatura: se você fizesse uma assinatura era “x”, se fizesse dez era “y”, e por aí ia. E você dava os palpites: só valia palpite cheio, não valia negócio de acertou um lado, acertou outro, nada disso, era palpite cheio. Na época, “ele é vivo” Graças a Deus, o professor Gabriel Saraiva era quem cuidava dos jogos e tinha o acumulado. E quando o acumulado estava bem alto, cada dia que aumentava esse acumulado aumentavam as dificuldades dos jogos: aí ele botava jogo da Rússia (risos)… aí imagine você sem televisão… Ele ouvia aquilo no rádio escuta pra dar o resultado… E o início do Bolo Tricolor começou com carimbo, e aí meu pai, que já andava lá, e tinha uma diretoria exclusiva do Bolo Tricolor… Muita gente diz que algumas pessoas ficaram ricas com o Bolo, eu te digo: ninguém ficou rico, ninguém roubou o Bahia, o patrimônio do Bahia foi construído com o dinheiro do Bolo. Pra você entender, o dinheiro do bolo era todo para o patrimônio, não usava um centavo para o time de futebol. Osório não metia um dedo no bolo, tinha cada briga da zorra: ele precisava de dinheiro pra folha e o bolo não dava. Aí o Bolo começou a crescer e era um trabalho, rapaz… você ficar carimbando folha por folha… Aí meu pai chegou pra ele e disse: eu vou te dar uma ideia, vamos fazer esse Bolo impresso. O pessoal que fazia parte da diretoria disse: “mas Maia, você tá maluco? Isso é muito caro, não compensa”. Aí meu pai disse: “vamos fazer uma coisa: o Bahia dá o papel e eu dou o serviço de graça, vamos fazer uma experiência.” Você sabe como é que fazia o bolo? Saiam os jogos, tá, aí quando chegava sexta-feira fechava o bol. Aí ficava aguardando os resultados, Aí o professor Gabriel já providenciava os jogos da outra semana pra imprimir com mais calma, mas quando chegava a noite de domingo saía o resultado, não tinha computador era tudo na mão, era um monte de gente… Pronto: aí saía o resumo, que era quanto rendeu todas as informações do bolo, o borderô completo. Esse borderô era levado pra casa de meu pai às duas horas da manhã. Você sabe quem foi um dos caras que mais levou esses borderôs lá? Orlando Aragão. Ele entrou no Bahia como office boy, levava o bolo. Tinha um tipógrafo, Sr. Emilio, ele chegava às quatro e meia da manhã pra preparar todo o processo, para seis horas da manhã entrar na rotativa pra imprimir, pra quando desse oito horas da manhã estar na rua, pra poder você vender a lista daquela semana, se você não apresentasse a anterior. Eu me lembro de que o bolo chegou uma época (não me lembro a moeda), era uma fortuna, era uns 20 mil e alguma coisa, era dinheiro como a zorra. Quem ganhou esse bolo foi um cara da refinaria de Mataripe: o cara ganhou sozinho. Então meu pai teve uma participação muito grande nesse bolo, ajudou muito, nunca quis nada do Bahia, nunca se aproveitou do Bahia em nada, era para ajudar mesmo. Até quando ele viajava era por conta própria, se ele viajou por conta do Bahia foi uma ou duas vezes. Eu me lembro de uma que eles foram jogar em São Paulo, na época da CUT, a coisa pegando fogo por conta do movimento sindical e eles foram jogar em Santo Amaro, e meu pai era o presidente da delegação. Mas meu pai nunca se aproveitou de nada, foi conselheiro do Bahia durante muitos anos. Lá na sala dele, do escritório dele, tinha uma flâmula do Bahia que eu ganhei de Luís Brito e eu dei a ele de presente, e tinha o diploma de Conselheiro Campeão Brasileiro de 1988.
8. A velha Fonte Nova, de momentos tão únicos… você teria uma lembrança emocionante para nos contar?
Resposta:
Muitas, muitas… Vou te contar uma da velha Fonte Nova: o milésimo gol de Pelé. Eu estava lá, assisti o jogo em cima da torre de iluminação, porque não tinha lugar para ninguém. Nesse jogo, Pelé faria o seu milésimo gol aqui. Aquele jogo tem algumas nuances interessantes, mas o que o povo foca mais é no gol que Nildo Birro Doido salvou, que depois disseram que a torcida vaiou: é mentira, não vaiou zorra nenhuma, aplaudiu Nildo Birro Doido, que era doido, era um jogador raçudo da zorra. Pelé cabeceou para o chão, ele meteu a cabeça na bola e tirou, esse foi um lance. O segundo lance que poderia ser o milésimo gol de Pelé, foi um cruzamento que Pelé cabeceou na trave na volta Jair Bala fez o gol de bicicleta e o gol do empate do Bahia foi um dos pouquíssimos, eu não me lembro de outro, pode até ter mas eu não me lembro, gol de Baiaco.

9. Um jogo inesquecível?
Resposta:
Tenho, eu vou citar. Na verdade, eu tenho vários jogos inesquecíveis, mas esse, por exemplo, foi um jogo que marcou bastante: o Bahia tinha jogado com Santa Cruz de Recife e tinha perdido de 4×0. Naquela época não tinha negócio de gol fora de casa não, era ganhar o jogo de cinco: e ganhou. Dizem que foi no apito e coisa e tal, eu não concordo, porque teve o último gol do Bahia… Porque o Bahia tinha um zagueiro cabeçudo da zorra, bicudeiro, chamava-se Aurelino. Aí o Santa Cruz pressionando, o jogo estava 4×0, Aurelino deu uma bicuda pra se livrar da bola, o Santa Cruz todo em cima, aí Toninho Tanio saiu de trás e pegou a bola livre e entrou com goleiro e tudo. Foi um jogo que marcou muito por emoção. Teve outro jogo também inesquecível pra mim, foi um amistoso, nesse o Bahia perdeu, mas me marcou porque nesse jogo eu vi o gol mais bonito da minha vida: Bahia e Cruzeiro. O Cruzeiro com aquela seleção da zorra: Natal, Tostão, Zé Carlos, Evaldo Piazza, um time sem defeito, ainda tinha Raul Plassman, e foi a reestreia de Alencar no Bahia, ele tinha ido para o Palmeiras depois voltou. O Bahia fez 2 a zero no primeiro tempo, dois gols de Alencar: quando acabou o primeiro tempo eu não dava uma palavra. Aí, no segundo tempo, Tostão resolveu jogar, e aí foi um acabamento da zorra: eles empataram o jogo logo, rapidinho. Aí, lá para o meado do jogo teve um lance no campo do Bahia: o cara bateu o lateral, Tostão matou no peito botou no chão e fez fila, passou pelo goleiro entrou com bola e tudo. Muito parecido com aquele gol famoso de Maradona contra a Inglaterra, foi mais ou menos isso, mas eu acho que o de Tostão foi mais difícil porque ele não foi por um lado ele foi pelo meio do campo, e o número de jogadores que ele driblou foi maior, um golaço. Tostão jogava muito e ele jogava muito sem a bola.

10. Você considera que a década de 1980 foi a mais vitoriosa na história do Bahia?
Resposta:
Não, para mim a década mais vitoriosa do Bahia foi a década de 70, o Bahia foi campeão em 73, 74, 75, 76, 77, 78 e 79, perdeu 72 para o Vitoria e foi campeão em 71. Essa década, sem sombra de dúvidas, foi a mais maravilhosa e esse time, durante dez anos, ele tinha mudanças pontuais, eles não mexiam na estrutura do time, mexia assim: um zagueiro era vendido vinha outro, um lateral, vinha outro e assim funcionou, entendeu?
11. Qual sua avaliação do time do Bahia de 1988, Bicampeão Brasileiro?
Resposta:
Primeiro, agradeça a Evaristo de Macedo, depois à união dos jogadores, não resta dúvida. Mas, naquele time do Bahia não havia nenhum jogador diferenciado: Bobô nunca foi jogador diferenciado em tempo algum e a prova é que ele saiu do Bahia, jogou em vários times e nunca estourou, ele nunca foi um jogador diferenciado. Eu tinha um amigo que é falecido, ele assistia ao jogo, ele detestava Bobô: quando Bobô caía ai ele dizia “que jogador desgraçado só fica no chão”. Aí vinha a próxima bola, ele fazia “bobo” caiu, (risos). Pra mim, Bobô fez uma brilhante segunda fase do Campeonato Brasileiro, mas o Bahia, sem medo de errar, o elenco de 88 não era como o de 59: quase todos os jogadores eram do mesmo nível. O Bahia em 59 tinha dois pontas sensacionais, tinha dois meias esquerda, esse time tinha muita qualidade.

12. Você conseguiria escalar um time ideal do Bahia de todos os tempos?
Resposta:
Olha, vou fazer um adendo: vou te falar o time que vem na lembrança. Agora, não significa que eu não possa fazer alguma alteração: você pode me entrevistar daqui a uma semana e eu não me lembrar, mas eu posso considerar que esse time foi um dos melhores que eu vi jogar, que me marcou. Goleiro: o Bahia teve bons goleiros, mas, na minha opinião, foi Buticce. Na lateral direita, um jogador que jogou pouco no Bahia porque sofreu uma contusão foi Luís Alberto. Zagueiro central: o Bahia sempre se notabilizou por ter zagueiros centrais bicudeiros (risos), aí eu cito Zé Otto, Henrique, que foi campeão em 59. Eu tenho mais referência do lado esquerdo, mas para o lado direito eu vou reforçar a minha tese: Roberto e Vicente. E na lateral esquerda eu poderia colocar meu amigo Florisvaldo (os filhos dele são meus amigos até hoje), mas eu vou fazer uma homenagem a outro amigo meu, Romero. O meio de campo do Bahia eu vou botar no estilo que joga hoje: seria Baiaco e Paulo Rodrigues. E meus atacantes seriam Beijoca, sem sombra de dúvida, e Sanfilippo. Eu não perdia um jogo com esse time.
13. Você consegue enxergar um grande jogador no futebol atual??
Resposta:
Neymar, não tenha nem dúvida, fora do Brasil é ele. Agora, aqui no Brasil, eu digo a você sem medo de errar: o Brasil tem pouco bons jogadores e não tem nenhum jogador diferenciado. Tem um menino no Santos, um tal de Geovânio, ele tem muita qualidade, mas ainda tem um bocado de defeito da própria idade. Como esses meninos do Bahia que subiram aí: dos vinte que subiram, eu acho que três tem condições, o resto tem que emprestar para os meninos pegarem cancha. Você não pode manter esses meninos no elenco. Eu entendo que quando o Presidente colocou esses meninos pra o profissional é porque não tinha dinheiro pra contratar.
14. Fale sobre sua participação no filme Bahia, Minha Vida
Resposta:
Eu vi no cinema, que eu fui convidado, me emocionei muito… Depois, um dia, minha mulher (que já assistiu umas quatro vezes) estava assistindo, me chamou e me forçou para sentar e assistir. Porque eu não gosto muito de assistir várias vezes, mas eu tenho gravado em meu computador. Esse filme foi a melhor coisa em termos de marketing que o Bahia fez em toda sua história: o Bahia não tem nada a se comparar a esse filme. Eu fui convidado a participar do filme, e eu dormia terça e quarta na casa do meu pai para ele não ficar sozinho, e era um dia de quarta-feira que me ligou pra fazer a gravação. Aí eu disse: “Olha, tem um problema porque eu moro no Bomfim. Pra eu sair do Bomfim e ir até Itinga é muito longe, mas se você mandar me pegar e me trouxer de volta, eu topo.” Pronto: eles aceitaram. Chovia muito, rapaz, nesse dia… aí me pegaram e me levaram pra Itinga. Quando cheguei lá estava aquela equipe do filme, aí eles me deram logo a ficha, né: que o Bahia não estava ajudando em nada no filme, não tinha nenhum participação nem na logística do filme, em nada. Eu fiquei com aquilo atrás da orelha: “Rapaz, o pessoal fazendo um filme do clube e o clube não ajuda em nada…” Porque os dirigentes antigos do Bahia não acreditavam em nada disso, isso não fazia parte da cabeça deles. Nenhum deles tinha essa visão que o futebol mudou, que você precisa dessas coisas. Aí estou lá sentando, aí o diretor chegou pra mim e disse: “Nós vamos gravar no quiosque, onde hoje é a academia.” Eu disse: “Não, no quiosque não.” Eu disse: “Vocês me chamaram aqui pra falar o quê? Sobre a história do Bahia né? Eu não vou fazer gravação no quiosque não, eu vou fazer na sala dos troféus.” Porque aí a gente tem que dar valor a Petrônio que contratou um cara, Normando Reis. E Normando Reis fez uma sala de troféu fantástica, é uma pena que era no Fazendão, não tinha muito acesso, mas fantástica, coisa de primeiro mundo, muito linda. Aí eu disse: “Nós vamos fazer lá na sala de troféus.” e naquela época eu era conselheiro de Marcelo Guimarães (risos). E a sala estava trancada. Aí o pessoal disse: Mas a diretoria…” Aí eu disse: “Que diretoria? Quem é que manda nessa zorra aqui?” Fui assim logo, pegando pesado (risos). Aí me chamaram um cara lá, aí eu disse: “O senhor é o diretor aqui?” Ele disse: “Sou.” Aí eu disse: “Eu sou conselheiro do clube e quero que o senhor mande abrir aquela sala de troféus, que eu vou dar uma entrevista lá.” Na mesma hora foram abrir (risos). Rapaz, quando eu entrei eu tomei um choque: estava tudo depredado, as taças tudo no chão, mas mesmo assim emociona. Mas não estava organizada por época por período, tinham tirado até o taboado do chão. Aí eu sentei lá no banquinho, eles começaram a filmar, passamos umas duas horas e meia conversando… Ele até depois me disse: “O seu depoimento dá pra fazer outro filme (risos). Aí eu contei várias histórias e uma das perguntas que me marcou foi que as duas taças estavam no chão, a de 59 e 88 uma ao lado da outra. Aí ele me perguntou: “De todos os troféus do Bahia quais são os mais importantes?” Aí eu disse: “São essas duas aqui.” Aí ele disse: “E dessa duas aí?” Eu disse: “a de 1959”, sem pestanejar. (risos).

Mensagem do torcedor Maia
Primeiro, nós precisamos reforçar o time para Série B. Depois, o torcedor do Bahia tem que ter consciência e paciência nesse momento: é um momento de reconstrução que começou em 2013 e não vai acabar em menos de cinco anos. Portanto, ele tem que ter consciência. “Ah, porque já tem três meses, quatro meses…” meu amigo, você vai penar, penar em quatro, cinco anos. Você tem que ter uma administração como essa que está tendo: uma administração séria, com gente que esteja interessada, gente que esteja disponível, que tenha tempo e que gosta do que faz. Então, o torcedor tem que ter paciência e fé. E torcer pra subir.

Entrevista feita por Marcio Paiva e Rodrigo Menezes