Ontem com a eliminação do nosso tricolor, li diversas mensagens nas redes sociais de que estava tudo errado na base do Bahia, que precisava mudar tudo e etc e tal. Mas, será que se tivéssemos eliminado o Taubaté essas opiniões seriam as mesmas? Acho que não. O torcedor tem a necessidade de ganhar sempre, e continuamos analisando muito mais o resultado do que o todo. E a divisão de base não é para ganhar sempre (claro que quando ganha a gente comemora, é bom para a confiança da garotada, mas não é tudo).
Nossa melhor campanha na Copinha foi em 2011, quando perdemos a final para o Flamengo, ainda acho que se nossos laterais tivessem jogado, nós teríamos vencido (Madson na direita e Jussandro na esquerda estavam suspensos para a partida final, e eram dois destaques do time, principalmente Madson que era o homem da bola parada), e por conta dessa lembrança de uma campanha que apesar de não ter ganho o título, foi a melhor de um nordestino (e dois anos depois em 2013 chegou a semifinal, feito ainda nunca repetido por outro time do Norte/Nordeste), fui pesquisar onde está cada jogador do time de 2011, para saber se o “ganhar” na base define alguma coisa para a carreira desses meninos.
Sim, ainda são meninos até hoje, todos eles estão com 25 anos mais ou menos, jovens para o futebol, mesmo os que estão em baixa ainda podem ter chances de recuperar a carreira, as vezes um bom estadual é o trampolim, ou quem sabe um bom jogo contra um grande na Copa do Brasil, mas é muito mais difícil imaginar isso hoje 7 anos após aquele momento de destaque com a camisa do Esquadrãozinho, onde o sucesso parecia questão de tempo com a camisa do Esquadrão de Aço no time principal.
Apenas 3 jogadores hoje jogam campeonatos de alto nível. De longe o nome mais famoso de todos daqueles garotos é o de Anderson Talisca, que hoje faz gols na Champions League com a camisa do Besikitas da Turquia, mas era reserva daquele time e quase não jogou (vejam, um reserva fez mais sucesso do que todos os titulares). Outro destaque é Filipe Augusto que praticamente não jogou no profissional e hoje está no Benfica, apesar do momento em baixa no time português, já teve mais prestígio por lá e teve uma boa passagem pelo Valência da Espanha. Completando o trio que continua em alto nível temos Madson, talvez o que mais tenha feito partidas pelo profissional no nosso tricolor dentre todos esses, e que acabou de ser contratado pelo Grêmio, campeão da Libertadores.
Juntos com Talisca e Filipe Augusto, tem mais 2 jogadores atuando na Europa, mas em campeonatos de menor porte, ambos em Portugal. Também tem outros 2 em clubes da nossa 1ª divisão aqui no Brasil, mas não estão sendo utilizados no time principal e não fizeram 1 jogo sequer neste último Brasileirão que acabou no mês passado.
São 6 jogadores sem clube no momento, 1 provavelmente até já tenha abandonado o futebol, face não ter tido nenhum clube desde 2012 quando saiu do Bahia. Além desse, outros 4 não tiveram clube em 2017, e também talvez já tenham encerrado a carreira, 2 não foram sequer localizados pelas pesquisas na internet.
Isso mostra que bons resultados dos garotos em campo na divisão de base, não garante sucesso na sequência de suas carreiras, nem tampouco seus aproveitamentos no time principal. Vejam a lista completa abaixo, vocês verão que apenas uns 4 jogadores fizeram talvez 10 ou mais partidas pelo clube no time de cima.
POSIÇÃO | JOGADOR | TIME ATUAL | DESDE |
Goleiro | Renan | Sem Clube | 2016 |
Goleiro | Douglas | Barcelona-RJ | 2016 |
Lateral Direito | Madson | Grêmio-RS | 2018 |
Lateral Direito | João Marcos | Sem Clube | 2012 |
Lateral Esquerdo | Jussandro | Sertaozinho-SP | 2018 |
Lateral Esquerdo | Maicon | Angra dos Reis-RJ | 2016 |
L. Esq / Zagueiro | Laercio | U. Madeira-PORT | 2017 |
Zagueiro | Dudu | Passo Fundo-RS | 2018 |
Zagueiro | Everton | Santa Maria-DF | 2017 |
Volante | Anderson Mello | Santa Rita – AL | 2017 |
Volante | Brendon | Santos – B | 2017 |
Volante | Filipe Augusto | Benfica-PORT | 2016 |
Volante | Thiago Sena | Sem Clube | 2015 |
Meia | Igor | Sem Clube | 2015 |
Meia | Fabio Gama | Gama-DF | 2018 |
Meia | Anderson (Talisca) | Besikitas-TURQ | 2016 |
Meia | Mansur | Atlético-MG- B | 2016 |
Atacante | Rafael Gladiador | Tupi | 2017 |
Atacante | Rodrigo Thompson | Cinfães-PORT | 2017 |
Volante | Fernando | NÃO LOCALIZADO | —– |
Atacante | Valson | NÃO LOCALIZADO | —– |
Claro que é importante lembrar que em 2011 infelizmente éramos ainda administrados por um grupo que fez muito mal ao clube e maltratou e muito as divisões de base, quando não recolhiam FGTS dos atletas e estes saiam de graça, fatiando com empresários e empresas de fachada os direitos ecônomicos dos jogadores , deixando o Bahia sempre em segundo plano.
A divisão de base foi feita para jogar, ganhar experiência de jogos, minutos em campo, para os atletas passarem por situações de jogar com 1 jogador a mais, jogar com 1 a menos, estar ganhando o jogo e tomar o empate, sair perdendo com 5 minutos de jogo e precisar virar, enfrentar adversários que jogam todo fechado, aprender a dor de ser eliminado e não baixar a cabeça e etc. Tudo isso vai formando o jogador que amanhã pode ser usado no time de cima, esse cara tem que chegar quase pronto e apenas terminar de ser lapidado, como joia que é.
Vejo a necessidade da divisão de base trabalhar em prol do profisisonal. Acredito que até os 15 anos é importante ter conhecimento da história do clube, do DNA do time, de como que a torcida sabe que o time vai jogar na Fonte Nova, sem medo de errar, pois esse é o momento de poder errar, de arriscar, de aprender com os erros, sem responsabilidade de ganhar títulos ou prêmios individuais.
A partir daí é importante já começar a trabalhar a parte tática (não que antes não tenha sido importante, mas não tão relevante como a partir de agora), identificar e corrigir os erros de fundamentos, aprender a chutar com a “perna ruim”, cabeceio, cruzamentos, cobertura e etc. E então numa última fase os jogadores já quase prontos devem começar a ter a transição para o profissional de forma organizada, treinando com os já consagrados jogadores do time principal, ganhando minutos seja entrando em jogos saindo do banco, ou iniciando como titulares em campeonatos menores como o rodízio indica para o Campeonato Baiano.
Acredito que o trabalho iniciado por Marcelo Sant’ana e Pedro Henriques lá em 2015 e que agora seguirá da mesma forma séria com Guilherme Bellintani e Vitor Ferraz nos trará bons frutos nos próximos anos, talvez não tanto refletido em títulos, mas sim em abastecimento de matéria-prima e negociações bem feitas, valorizando nosso clube e jogadores que são ativos da agremiação, como foram os casos de Jean e Juninho Capixaba.
Na próxima quinta (18/01/2018), começará de verdade a nossa temporada (nossa, os torcedores), o que peço é paciência com os jogadores da base, são eles que são o patrimônio do clube, é para eles que precisamos dar nosso principal apoio no estádio. Alguns nomes já começam o ano com desconfiança e até rejeição da torcida como Rodrigo Becão, Everson, Feijão e Junior Brumado, mas apoiem eles, aplaudam (ou pelo menos não vaiem) os erros que são tentando acertar, deem tempo para que possam nos ajudar dentro de campo, com a confiança da diretoria e da torcida, que com certeza eles poderão nos ajudar dentro do campo.
Saudações Tricolores e Bora Bahêa (junto com a base) Minha Porra!
Lucas França – Conselheiro do E.C Bahia
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