1. Charles: Você pretende fazer intercâmbio também em clubes sul americanos, como o Boca Juniores, ou algum outro fora do eixo Europeu?
Resposta:
Com certeza, tendo oportunidade estou aberto a esse tipo de intercâmbio: qualquer informação que a gente colha dentro do futebol é extremamente valida. Só nessa experiência que eu tive agora na Alemanha, pra vocês terem uma ideia, quem estava lá também, e conviveu conosco, foi o Jorge Sampaoli, treinador da Seleção Chilena, que deixou as portas abertas para uma possível oportunidade em acompanhar os trabalhos dele e poder observar seus treinamentos, deixou seus contatos. Claro que existem algumas questões porque se tratando de seleção é mais complicado, no clube isso já é bem melhor. Mas, com certeza, não só as equipes sul americanas: as pessoas falam muito na Europa, principalmente alguns treinadores de equipes sul americanas (argentinos que estão em evidência), mas aqui no Brasil mesmo têm grandes treinadores. E, numa possível oportunidade de poder buscar conhecimento de como alguns times no Brasil trabalham, com certeza estarei aberto a qualquer tipo de informação que poderá nos ajudar no futuro.

2. É possível ser aplicado aqui no Bahia a mesma tecnologia utilizada pelos clubes alemães?
Resposta:
São realidades diferentes: o futebol europeu, o futebol brasileiro, a estrutura que o Bayern tem, a estrutura que o Bahia tem, são situações distintas em termos de trabalho de campo. Naquilo que eu pude observar, alguns trabalhos podem se adaptar tranquilamente, mas aí cabe também a questão do calendário, de que forma pode ser aplicada. O calendário nosso é totalmente diferente do calendário europeu: a paciência do torcedor lá é muito maior, a paciência dos dirigentes é muito maior, a paciência da imprensa é muito maior, até mesmo porque você está lidando com jogadores de alto nível, de muita qualidade, que ganham muito mais do que perdem jogos. Essa é a realidade: às vezes se conquista os objetivos, às vezes não, mas, na maioria das vezes, sim. Então são realidades que nós temos que procurar, dentro do possível da nossa realidade, poder agregar algo, principalmente nos trabalhos de campo, na postura dos atletas. E aí sim procurar exigir, porque a cultura dos jogadores brasileiros é muito diferente da dos jogadores europeus e alemãs. E essa mentalidade, essa filosofia, que é implantada no Brasil hoje tem que ser modificada, para que os jogadores tenham a consciência maior, principalmente dos trabalhos que são aplicados lá e que possam ser aplicados aqui também.

3. Você chegou a acompanhar os bastidores dos times nos dias de jogos? Há muita diferença sobre a “concentração” e a preparação pré-jogo que podem ser aplicadas aqui, em sua opinião?
Resposta:
Não tive oportunidade de acompanhar os bastidores pré-jogo e pós-jogo, não tive acesso, mas pude presenciar os treinamentos pré-jogo, os jogos e os treinamentos em campo. Os trabalhos, como falei anteriormente, perfeitamente dá pra se adaptar, dá pra fazer todo tipo de trabalho, a gente consegue. Com relação à concentração, pra vocês terem uma ideia, lá não tem concentração: os jogadores se apresentam no dia do jogo. Se for jogar à noite, eles se apresenta às 11:00 h da manhã, fazem uma atividade curta, almoçam, descansam no hotel: é o único tipo de concentração que eles tem, daí vão para o jogo. Esse tipo de situação, se você colocar no Brasil… eu, como treinador, não colocaria: porque o jogador brasileiro não tem essa cultura, não tem essa consciência. O jogador brasileiro, com concentração às vezes acontecem situações que temos dificuldade.. imagine você, tirar a concentração e deixar os jogadores soltos aí na noite… Claro que a gente não pode generalizar esse tipo de situação: existem profissionais, existem jogadores conscientes, existem, mas a grande maioria não tem essa consciência de que está sendo lhe dado um crédito para que você possa corresponder a esse crédito. Mas, a maioria das vezes, pela experiência que se teve desse tipo de questão no futebol brasileiro, não foram experiências positivas e, infelizmente, a gente tem que falar isso, mas a gente espera que um dia possa chegar a esse estágio. Mas eu acho muito difícil de chegar a esse estágio com a mentalidade, com a postura e com a cultura que o jogador brasileiro tem hoje.

4. É notável o sucesso de público e organização, tanto no Campeonato Alemão quanto da Champions League. Além de acompanhar a parte do futebol, você acredita ter absorvido iniciativas positivas em outras áreas, em conversas com Dante e Rafinha?
Resposta:
Com certeza. Os jogos lá do Bayern, a capacidade do estádio é de 75 mil torcedores: todos os jogos do alemão são 75 mil torcedores, a capacidade máxima todo jogo. Tanto que você não acha ingresso pra comprar em bilheteria em dia de jogos do Campeonato Alemão, você não acha: os ingressos são comprados no início da competição, os pacotes que eles fazem pra cada tipo de torcedor são pacotes diferenciados, mas que todos compram no início de temporada. O que se acha de ingressos lá são pra jogos eliminatórios da Champions League, Copa da Alemanha, que por serem jogos eliminatórios, não tem como ser vendido o pacote porque não sabem até onde os times vão avançar. Mas, mesmo assim, todos os jogos com a capacidade do estádio vendida: é muito difícil isso não acontecer. E a assistência que eu pude colher de Dante e de Rafinha… eles me deram uma assistência muito boa lá na Alemanha, foi altamente positiva. No sentido de que tudo é feito, tudo é passado para os atletas, em todos os sentidos, não só dentro do campo. Os atletas do Bayern têm hoje o extra campo, que é toda assistência e condição que o clube dá: é muito importante para que o atleta tenha única e exclusivamente cabeça para jogar futebol e não se preocupar mais com nada. Isso é importantíssimo para o desenvolvimento e o rendimento em alto nível do atleta, como é exigido na Europa e nesses grandes clubes.

5. Charles, o técnico Tite, no ano passado, também vivenciou uma experiência internacional e hoje vemos a aplicação tática que ele está implantando no Corinthians com a formação 4-1-4-1 (quatro defensores, um volante, quatro meias e um atacante), típica do futebol europeu. Podemos esperar um Bahia com um esquema tático internacional?
Resposta:
Se você se recorda, no ano passado, quando eu assumi como treinador do Bahia, naqueles últimos cinco jogos, o esquema que eu utilizei foi esse ai. Então, eu acredito, eu, como treinador, no dia que eu poder formar uma equipe, no dia que eu pegar uma equipe na pré-temporada, o esquema que eu vou jogar, a grande possibilidade, é que seja dessa forma. Porque eu gosto desse esquema: é um esquema que a equipe fica mais compacta, ataca de uma forma em bloco, defende também em bloco, o sistema que preenche bem os espaços em campo, pelo menos eu penso dessa forma. Não que outros esquemas não preencham, mas cada treinador tem uma filosofia de trabalho: tem treinador que gosta mais de jogar em outro esquema. Por exemplo, eu vi a Seleção do Chile na Copa do Mundo com três zagueiros, que é uma coisa que você não vê tanto. Mas o treinador acredita naquilo que está fazendo, são as convicções dele, não pode se dizer que ele está certo ou que está errado. A forma do time jogar, a tática que o time joga, não é nem a tática, o sistema que o time joga, isso aí vai muito de cada treinador. E eu acredito muito nesse sistema de jogo, porque eu acredito que me dê mais compactação, tanto atacando como defendendo: eu tenho esse equilíbrio da equipe. Então, eu acredito muito nessa formação e essa questão de esquema europeu, esquema brasileiro, esquema sul americano, isso depende muito da filosofia de cada treinador. Claro que isso passa também pela consciência dos atletas, todo esquema de jogo, todo sistema de jogo passa muito pelo aquilo que você tem na mão. Eu tenho preferência de jogar nesse sistema 4-1-4-1, mas se no plantel eu não tiver jogadores que se adequem a esse sistema, não vai adiantar ficar insistindo em um esquema que eu não tenha jogador para que possa jogar nesse sistema. Então, para que eu possa implantar uma filosofia de trabalho, para que possa implantar um esquema de jogo e trabalhar taticamente uma equipe, eu só posso trabalhar em cima daquilo que eu tenho na mão. Eu gostar de um esquema e eu aplicar esse esquema passa muito pelo material humano que eu tenho na mão, que são os jogadores: se eu tiver vou procurar aplicar, se não tiver vou ver qual a forma melhor de armar minha equipe.

6. O programa de treinamento nos clubes que você acompanhou dá mais destaque às questões táticas, você acha que tem algum outro treinador brasileiros que você pode associar?
Resposta:
Dentro do Brasil hoje, estando jogando dentro desse sistema que o Corinthians vem aplicando, eu não vejo nenhuma equipe jogando dessa forma, com esse perfil: eu não vejo nenhuma equipe no Brasil. Às vezes você tenta implantar, mas pelas características do atleta que você tem na mão não te ajuda a jogar nesse sistema. Pra mim, da forma que o Corinthians joga hoje, me parece que é único. O Cruzeiro, por exemplo, já joga num sistema diferente, joga num 4-2-3-1, que é uma forma de jogar diferente do Corinthians, mas é uma forma extremamente ofensiva, os atletas que eles contrataram foram mais ou menos dentro do mesmo perfil, mas longe de ter essa competitividade que o Corinthians tem hoje. Eu acho que o Corinthians é uma equipe muito competitiva e quando você consegue colocar esse sistema em prática com um time competitivo, que briga pela bola o tempo todo, que não tem bola perdida, se entrega do primeiro ao último minuto, com esse perfil que o Corinthians está hoje, não vejo no Brasil. Por isso, que acho que para o Corinthians, esse ano, vai ser difícil perder um Campeonato Brasileiro, vai ser difícil perder as grandes competições. Por isso, eu acho que esse ano tem tudo pra conquistar títulos. Claro que no futebol você não pode fazer nenhum tipo de afirmação, no futebol são muitas surpresas: a gente vê no futebol. Só se acontecer algum desastre para o Corinthians não ganhar alguns títulos no ano de 2015.

7. Qual sua avaliação da Série B de 2015: o Bahia tem chances claras de retornar à Série A?
Resposta:
Com certeza, o Bahia hoje é um time que obteve um encaixe: e o mais importante para o treinador em um início de temporada é ter o encaixe de um time. Sérgio conseguiu dar uma cara à equipe do Bahia, Sérgio conseguiu dar uma forma à equipe do Bahia, que é uma forma de jogar que todos gostam, que é uma forma ofensiva, busca o tempo todo o ataque. Uma equipe que se preocupa muito com a parte ofensiva mas que se preocupa com a recomposição, e ajuda no primeiro combate dos atacantes lá na frente. Então, Sérgio deu uma cara à equipe que realmente o torcedor do Bahia vai pro estádio e sabe a forma que o Bahia vai jogar, então isso é muito positivo: você está terminando duas competições, que é a Copa do Nordeste e o Campeonato Baiano, na semifinais com grande possibilidade de chegar na final e o título das duas competições. Então, isso nos dá uma esperança que, na Série B, possa ser da mesma forma. É um campeonato mais longo, campeonato de pontos corridos, que você tem que manter uma regularidade que lhe faça conseguir chegar entre os quatro ao final do ano. Tem que ter uma regularidade muito grande, tem que ter um equilíbrio muito grande, principalmente jogando fora de casa, porque dentro de casa, realmente, pelo ímpeto de seu torcedor, pela força do nosso torcedor, nós vamos sempre estar buscando as vitórias. Mas, principalmente esse equilíbrio fora de casa, para que possa… quem quer subir tem que ganhar fora de casa, tem que ter esse equilíbrio para se jogar fora de casa. Eu vejo o Bahia muito consciente, muito concentrado, nesse sentido, quando se joga fora de casa. Eu espero que na Série B seja dessa forma e que no final nós possamos estar aqui comemorando o acesso do Bahia novamente pra Série A.

8. Qual a diferença dos treinamentos da sua época de jogador e atualmente? O que você nota de diferente?
Resposta:
Totalmente diferente, não existe nada que possa comparar ao tipo de trabalho que era feito. O único trabalho que pode comparar são os trabalhos tipo coletivo, que às vezes se faz, mas mesmo assim tem muitos treinadores hoje que não fazem. Os treinadores hoje, que não são mais adeptos a fazer coletivo, fazem muito parte tática, mas não coletivo solto como se fazia antigamente. Fazíamos muita corrida: antigamente o técnico tinha orgulho de falar “hoje eu botei o cara pra correr 10km”, isso não existe mais, isso acabou, ninguém pode nem comentar isso que passa vergonha no futebol. Então, são situações diferentes: hoje se trabalha com bola, já no primeiro dia quando você chega no campo, na pré-temporada o cara está mexendo com bola. Então, as coisas hoje são muito diferentes, não só na parte de campo, mas fisioterapia, musculação, departamento médico, tudo é diferente, tudo evoluiu. Fisiologia que hoje nenhum time consegue trabalhar, hoje, sem um fisiologista do lado para que possa dar esse “feed back” ao treinador, preparador físico; de que forma, que carga esta sendo aplicada. Se você olhar aqui no nosso treinamento, todos os dias, o nosso fisiologista, Mauricio Maltez, está na beira do campo com o ipad na mão, vendo o monitoramento cardíaco de todos os atletas, de forma individual, nada que se possa se comparar. Então, graças a Deus, evoluiu e isso é que queremos: evolução do futebol, evolução do futebol brasileiro. Que a gente espera que também evolua o jogador brasileiro, também com essa mentalidade: o jogador brasileiro não evoluiu a mentalidade da forma que está evoluindo o futebol. Passa muito por ai: tem que evoluir muito na parte de consciência. Eles trabalham, jogam, mas existe um pouco de falta de consciência do jogador profissional para que possa acompanhar essa evolução que teve o futebol nos treinamentos.

9. Como você descreve sua função atualmente dentro do clube?
Resposta:
Sempre quando o treinador chega, até o auxiliar ganhar a confiança dele leva um tempo: são as atitudes, são momentos, ações do dia-a-dia que mostram seu trabalho. Porque nenhum treinador está errado de chegar no clube com desconfiança, pois a história nos diz que, na maioria das vezes que tem auxiliar da casa, algum tipo de problema é criado, pois o auxiliar às vezes tem que passar algum tipo de informação para Diretoria. Todos os meus amigos que foram auxiliar tiveram algum tipo de problema nesse sentido. No meu caso, sou um auxiliar que defendo os interesses do clube, que procuro contribuir para que vença seus jogos, quando Sérgio chegou aqui, eu expus a forma como eu trabalhava. Com Gilson Kleina foi uma forma extremamente clara, transparente e querendo que o clube cresça e que ganhe os jogos: para isso tem que colher todas as informações possíveis que acontecem no clube. Passei para ele isso e tenho tido uma relação muito boa com Sérgio, de situação que acontecem no clube, situações de jogo, de treinamento, tudo que acontece é passado para ele com a maior fidelidade possível, pois é dessa forma que eu penso que se deve trabalhar. E tenho certeza que hoje com Sérgio, ou com qualquer treinador que chegue ao clube, pode ter certeza que minha fidelidade, comprometimento, dignidade, vai ser sempre 100%, e é dessa forma que eu tenho trabalhado.

10. Qual sua opinião sobre Fair Play financeiro?
Resposta:
Rapaz, está se mudando muito esse conceito: o clube hoje está tendo uma consciência e responsabilidade maior com o caixa, os presidentes estão mudando e melhorando nesse sentido. Mas, o que acontecia com os clubes há pouco tempo foi uma irresponsabilidade muito grande. Vejo hoje os clube querendo perdão de dívidas do governo, na verdade, acho que tinha que colocar esses ex-presidentes na cadeia: quebraram os clubes e agora estão pedindo ajuda do governo para perdoar dívida. Para mim não tem que perdoar, tem que se negociar e pagar: se deve tem que pagar, se colocou presidentes irresponsáveis lá então tem quer arcar. Infelizmente, isso era uma realidade dos clubes brasileiros, dificilmente encontraremos um clube sem dívidas, mas espero que as coisas mudem e tem mudado. A realidade do Bahia hoje é outra: desde que essa Diretoria entrou tem pregado que a realidade do Bahia é essa, a folha salarial é essa, para que não atrase os salários. E a Diretoria tem cumprido: os salários estão em dia, premiação em dia e é dessa forma que tem que trabalhar para que o jogador não use desculpas de não estar rendendo em campo. O jogador tem a mania de arrumar desculpa e transferir responsabilidade, boa parte deles trabalham dessa forma. Se o jogador está com salário e prêmios em dia então procure estar em dia com o clube também. E é dessa forma que tem que ser e é dessa forma que se tem que trabalhar. E, Graças a Deus, aqui no Bahia tem sido assim.

11. No ano passado você chegou a declarar que existiam no Bahia jogadores que encostaram-se ao Departamento Médico para não estarem presentes na partida contra o Coritiba. Isso era o reflexo do clima dentro do Fazendão e todas essas questões foram influências diretas no rebaixamento?
Resposta:
Com certeza houve influência, quando você tem atletas que não acreditam no objetivo, naquilo que está por vir, a gente sempre fica triste, mas não foi esse o fator principal do rebaixamento. Foi uma série de situações que aconteceram que levaram o Bahia ao descenso, Mas tudo que aconteceu, eu não me orgulho mas também não me arrependo daquilo que foi dito. Porque, sinceramente, me causou muito desgaste aquela declaração, muita contestação sobre a minha declaração, até mesmo porque eu não dei nomes. Então, se existiu muitos questionamentos das pessoas em todo o Brasil, e situações que espero não passar mais, porque às vezes nós somos muito mal interpretados e muito cobrados por esse tipo de situação, então eu vi que não vale a pena. Mas, foi uma coisa dita por emoção, por eu ser torcedor do Bahia, isso deixou aflorar esse sentimento e isso foi muito polêmico naquele momento: não faria isso novamente. Quero continuar seguindo minha carreira de treinador, com certeza não farei mais isso, pois expõe muito o atleta, expõe muito a Comissão e as pessoas não encaram de uma forma positiva essas questões. Mas também as pessoas precisam entender que somos profissionais e temos que honrar e ter a consciência do nosso profissionalismo. Principalmente o jogador: porque quando ele está assinando um contrato ele não está assinando pra ser titular, ele está assinando pra estar à disposição do treinador.

12. Você viveu dois momentos completamente distintos no Bahia, foi campeão brasileiro em 1988 e passou no ano passado pelo desprazer do rebaixamento. Dá pra tirar uma lição de vida de momentos tão adversos?
Resposta:
Quando eu fui campeão brasileiro eu tinha 20 anos eu ainda não tinha a noção do que aquilo representaria pra minha vida, essa é a realidade. Eu não tinha noção, estava saindo da base, me firmei como titular no Bahia e quando fui campeão não tinha noção da projeção que seria aquilo, a proporção que aquele título ia trazer na minha carreira profissional. E só foram coisas muito positivas, que me fizeram engrandecer, que me fez ser conhecido no Brasil inteiro como atleta e, posteriormente, também internacionalmente. Fui convocado pra Seleção Brasileira e aí você passa a ser um jogador internacional: eu tive esse prazer de ser convocado, eu tive uma boa passagem pela seleção. Então, aquele titulo pra mim abriu as portas de uma forma muito positiva, minha carreira se iniciou ali praticamente, não só pra mim como pra outros atletas que aqui estiveram, uns souberam aproveitar bem outros não. Mas no futebol não é porque se conquistou um titulo que os onze jogadores vão estar na Seleção e que vão estar em evidência: alguns de destacam mais que outros, isso é natural, mas cada um com seu valor. E aqui no Bahia foi assim e acredito que em todo clube é assim. E com relação ao descenso no ano passado realmente foi um momento de muita tristeza, momento de lamentação por todas as situações que aqui aconteceram durante todo o ano. Muitas coisas erradas no clube: em um ano foram quatro gestores, daí você vê que as coisas não caminharam muito bem. Toda hora mudava a gestão, se mudava o comando e às vezes os jogadores ficam perdidos nesse sentido: até se reencontrar em um caminho certo, saber de que forma se trabalha, as coisas demoram de se encaixar, e foi isso que aconteceu. Eu particularmente não culpo a Diretoria, porque existem situações também que às vezes contrata-se um jogador e daí não é feliz nessa contratação: às vezes dá certo, às vezes não. Como exemplo, o Pato foi contratado pelo Corinthians, 40 milhões: pra mim não deu certo e não vem dando certo também no São Paulo. Ai você vê, mas não hora que contrataram Pato, todo mundo achou que devia contratar, mas não deu certo: isso ai é o futebol. Assim é a gestão: às vezes se contrata um não dá certo. Foram as infelicidades que aconteceram aqui no Bahia, não digo irresponsabilidade, digo infelicidade, em um nome ou outro, aí o que acarretou no nosso descenso, acho que essa mudança de comando acabou acarretando no rebaixamento.

Mensagem ao torcedor
Torcida tricolor, nós estamos iniciando o ano de 2015, ano de recomeço tricolor, ano de reconquistas tricolores, ano importante para que o Bahia ganhe títulos e principalmente retorne a Série A. É isso queremos, é isso que buscamos. Esse retorno passa muito pelo incentivo do torcedor, que pode ter certeza que o Bahia hoje é um clube que vai lutar muito por esse retorno, para que no final do ano estejamos todos comemorando: Diretoria, torcedores e jogadores.

Principais times onde jogou
– Bahia
– Cruzeiro
– Boca Jrs.
– Grêmio
– Flamengo
– Seleção Brasileira

Entrevista realizada por Rodrigo Menezes, Caio Noblat e Marcio Paiva