INTERVENÇÃO

Como torcedor eu achei fantástico, acho que o clube precisava passar por isso, como advogado não acompanhei de perto os autos do processo, mas sei que hoje é um processo já vencido, já perdeu o objeto porque já acabou o mandato de Marcelo Guimarães Filho, que foi quem sofreu a intervenção.
Acho que foi um momento histórico importante pro Bahia e serviu para nós vermos o quanto tinham coisas equivocados dentro do Esporte Clube Bahia, isso foi deixado muito claro pela auditoria que foi contratada, através de uma analise minuciosa foram reveladas algumas condutas, na minha concepção equivocadas, o clube passava em campo por uma crise, não sei se teve relevância mas tiveram também algumas declarações polêmicas do antigo presidente destituído, o fato é que juridicamente foi proferida uma decisão com toda consistência técnica, foi nomeado o interventor Carlos Ratis, uma pessoa fantástica, um profissional competentíssimo, que realizou seu trabalho da forma como solicitado pela justiça e até mais, porque uma coisa é administrar o clube enquanto interventor, outra coisa é se dedicar da forma como ele se dedicou, participando de plantão judiciário mesmo sem ter essa obrigação. Foi muito justo também ele receber o título de Grande Benemérito juntamente com Jorge Maia, o autor da ação, merecida essa agraciação desses dois tricolores.
O processo de intervenção fez com que hoje a gente esteja aqui. Foi o primeiro passo para instauração da democracia propriamente dita no Bahia, democracia essa que é histórica no Brasil. Acredito que nenhum clube tem eleições diretas para presidente, sem nenhum tipo de filtro do conselho deliberativo, isso deveria ter tido mais exposição na imprensa e certamente quando começarmos a ter sucesso essa historia vai ser revista, pois o Bahia vai se reerguer e quando forem estudar como isso aconteceu, a intervenção será muito analisada.

TORCEDOR DO BAHIA

Eu costumo brincar dizendo que eu sou prova da evolução da espécie, porque minha mãe e meu pai são Vitória. Eu lembro que minha mãe tentava me presentear com a camisa da vitória mas aquelas cores vermelha e preta não me chamavam atenção, na verdade, eu confesso que não me lembro quando passei a torcer mas desde que me entendo por gente sou Bahia, talvez a minha primeira lembrança foi o dia que o Bahia foi campeão brasileiro, eu era bem pequeno, não me lembro do jogo, mas me lembro bem que foi uma festa na imensa na rua, para uma criança aquele foi um momento inesquecível.
VONTADE DE CONCORRER AO CARGO DE DIRIGENTE DO BAHIA

Na verdade, desde que me envolvi com o conselho comecei a ter uma pretensão de em um futuro mais distante participar ativamente da administração do clube, porque o conselho, eu entendo, tem um papel importante de fiscalização, de aconselhamento efetivo, mas acho que e se a pessoa é apaixonada pelo clube, quer vê-lo prosperar e entende que tem capacidade, é natural que surja essa vontade, mas a vontade efetivamente de me candidatar na ultima eleição, acabou surgindo em meados de outubro, talvez começo de novembro, que foi quando o processo eleitoral já estava mais avançado.
O grupo político que faço parte estava analisando todo o cenário e não vislumbrava um candidato que nos representasse efetivamente, que nos passasse a segurança que queríamos, para ter a condição de ter tranquilidade para concluir que “esse” é o melhor para o Bahia, “esse” vai implantar uma administração que vai reerguer o clube. Então, diante deste cenário, da falta dessa pessoa que agregasse o valor que a gente entendia necessário, não apenas de honestidade, que é pré- requisito, mas também de capacidade e confiança, vimos que era preciso que nosso grupo, a Revolução Tricolor, lançasse um candidato.
Diante dos nomes que existiam, eu embora me sentisse preparado, confesso que fiquei surpreso de ter sido escolhido, porque existiam embates internos e em muitas situações eu costumava divergir dos membros mais tradicionais da RT. Além disso, eu passei a integrar o grupo efetivamente na eleição passada, não tinha tanto tempo de casa, como por exemplo Mario Junior, Leandro Fernandes e Vitor Ferraz. Como eu tinha essa pretensão para o futuro e não via um outro candidato que representasse bem os interesses do grupo que a gente faz parte, achei que poderia, sim, ser candidato, confiava na força do grupo para fazermos um bom papel nas eleições e resolvi aceitar, porque, quando surge oportunidade a gente tem que agarrar, não se tratava de uma oportunidade pessoal pra mim, era uma oportunidade de tentar fazer com que fosse implantada no clube uma filosofia que eu acredito que vai fazer o clube se reerguer.
REAÇÃO DA FAMILIA

Durante o processo eleitoral a reação de minha família foi interessante, porque acredito que no começo eles não achavam que eu tinha muita condição de me eleger, minha esposa desde o começo não gostou muito da ideia mas ela sabia que antes do meu amor por ela já tinha o Bahia! No nosso aniversário de casamento, que foi durante o período de campanha, ela me deu um cartão que dizia “somos três: eu, você e o Bahia” (risos).
Meus pais apoiaram a iniciativa, o engraçado é que eles não torcem para o Bahia, minha mãe era Vitoria (agora mudou), meu pai é vitória. Por isso eu costumo brincar que sou a prova da evolução da espécie!
Minha mãe sempre gostou de política tanto no trabalho como na vida pessoal e ficou surpresa quando resolvi me candidatar porque meu perfil não é muito político, as pessoas que me conhecem mais de perto sabem disso. Na verdade eu tenho pouco tato político, não que eu não saiba lidar com pessoas, é que sou muito objetivo, pragmático, gosto das coisas simples e as vezes em política não é assim.
No fim das contas fui incentivado por minha esposa que, depois de um tempo, acabou comprando a ideia e felizmente recebi todo apoio possível.

MEMBRO DA REVOLUÇÃO TRICOLOR

Eu participo da revolução tricolor desde as primeiras reuniões lá no Stiep, na época não consegui continuar por questões profissionais, pois tinha acabado de me formar e estava buscando me consolidar no mercado de trabalho, depois, quando tivemos as eleições da intervenção voltei a me aproximar do grupo e acabei sendo eleito conselheiro. Participei ativamente do conselho passado e ativamente também das reuniões da RT, tanto que fui escolhido pelo grupo para ser o candidato.
Desde que começou minha gestão no Bahia, naturalmente passei a ter menos tempo do que tinha antes, isso faz com que eu não compareça a todas as reuniões como antigamente eu fazia, mas continuo frequentando, continuo falando quase que diariamente, se não com todos, com boa parte dos membros da Revolução Tricolor.
É um grupo que eu reconheço como importantíssimo não apenas para eleição mas na historia do Bahia na sua luta pela democracia, eu continuo como membro, continuo respeitando os mesmos princípios que basearam a luta do grupo que fizeram com que hoje haja democracia no clube e fizeram com que eu hoje faça parte da diretoria executiva.
Vale ressaltar que como gestão não ouço apenas a RT mas as diversas forças do cenário politico, afinal, o Bahia não pode se fechar, tem que ouvir a todos.

PRESSÃO, MUDANÇAS E RESPONSABILIDADES APÓS ASSUMIR O CARGO

Primeiro que eu trabalhava a cinco minutos da minha casa, era muito tranquilo pra mim pois sempre tive a pretensão de morar perto do meu local de trabalho por uma questão de qualidade de vida, a gente sabe as questões de trânsito em nossa cidade e agora, com sorte, moro a 40 minutos do meu trabalho. Os horários mudaram um pouquinho porque não volto pra casa no horário comercial, por conta dos engarrafamentos, assim acabo sempre chegando mais tarde.
A pressão do trabalho é diferente, eu lido bem com pressão, a pressão que mais me preocupa é a minha pressão, sou muito acelerado no meu trabalho e como sou advogado sempre assumia muita responsabilidade, porque quando conduzia os processos estava conduzindo a vida de alguém, não como um médico, mas sempre levei muito a sério.
No Bahia não é diferente a responsabilidade que eu tomo pra mim, a pressão que modifica é a pressão externa, alguns clientes me pressionavam, mas não chegam nem perto da pressão que a gente toma dos meus clientes de hoje que são os sócios do Bahia, os torcedores do Bahia, e, eventualmente, a imprensa. Acredito que estou lidando bem com isso, mudou que hoje eu uso menos minhas redes sociais, porque qualquer postagem tem uma grande repercussão então tenho que ter cuidado com isso.
Estou tendo que me policiar pra não me manifestar politicamente e principalmente, na mudança no meu lado torcedor, na verdade essa mudança do meu lado torcedor já tinha começado no conselho, estava analisando o Bahia mais friamente, porque a gente não pode quando ocupa um papel institucional ser um mero torcedor passional, a gente não pode ficar depreciando o patrimônio do clube, falando mal dos jogadores, não pode fazer a boa e velha “cornetagem” que a torcida gosta, mas, desde o ano passado antes ate de ser candidato, já tinha essa frieza e esse é um aspecto que é positivo pra mim na ocupação desse cargo, porque se a gente não tiver frieza na analise e na condução das coisas no futebol a coisa desanda.

AMBIENTE NO FAZENDÃO

Eu me sinto bem no Fazendão, as pessoas nos tratam bem. Naturalmente logo depois de eleitos havia, por parte do pessoal, um receio com a nova gestão, do que iria acontecer, o que iria mudar, ainda mais que houve efetivamente alguns desligamentos no começo, que na verdade foi uma questão. O ambiente é tranquilo, tem a cobrança natural por ser um clube de futebol mas o astral aqui é muito bom.

CONTRIBUIÇÃO NAS DEMANDAS JUDICIAIS

Naturalmente por ser advogado acabo me dedicando um pouco mais do que Marcelo nessa parte de demandas judiciais. Em alguns casos tenho contribuído com meus conhecimentos jurídicos. É bom ressaltar que já temos aqui no clube o Vitor Ferraz, que é assessor jurídico e está cuidando dessa área.
No clube existia um déficit administrativo estratégico que precisava de mim, pois apesar de ser advogado tenho alguma experiência na área de gestão, trabalhava com advocacia empresarial, participei, quando universitário, de programas do Sebrae; o desafio Sebrae, minha equipe venceu na Bahia e ficou em terceiro no Brasil, depois fiz Empretec. O fato é que sempre me interessei em empreender e gerir negócios, então nesse primeiro momento minha contribuição maior tem sido na área de gestão. Tenho me dedicado principalmente nesse inicio as negociações e renegociações de dívidas, isso não requer apenas uso de conhecimento jurídico.

DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO BAHIA

Eu entendo até a preocupação de conselheiros porque na gestão passada o conselho decidiu (eu votei contra, inclusive), que quem estivesse ocupando a sub- presidência do clube não precisaria ter dedicação exclusiva, entretanto, desde a campanha que eu e Marcelo fizemos, deixamos claro que daríamos a dedicação exclusiva caso fossemos eleitos e assim tem sido. Estou integralmente no Bahia, normalmente das 09:00 as 19:3 0, as vezes até mais tarde, eu almoço aqui no Fazendão, não tem sábado nem tem domingo, pois são dias de jogo.
Observo que algumas pessoas ficam querendo criar fatos. Eu não sei com qual intenção. Eu era sócio administrador de um escritório de advocacia, dei entrada na alteração contratual na qual deixo a administração da sociedade no começo de Janeiro. Não fiz isso em Dezembro, primeiro porque a OAB estava em recesso, segundo, porque alguns de meus sócios estavam viajando, então logo no começo de Janeiro nós sentamos, formalizamos, e então me afastei do escritório. Na verdade, não tenho atuado na advocacia desde de Novembro, quando começou a campanha, expliquei a situação e meus sócios foram muito tranquilos, apoiaram, no escritório éramos cinco sócios e quatro são Bahia.
Na faculdade que eu lecionava pedi a suspensão do contrato de trabalho, apesar de entender que poderia dar aula, eu não quis entrar nessa discussão por conta do momento político, porque existia, principalmente no começo do nosso mandato, um ranço ainda da disputa, mas eu tenho que elogiar a mesa do conselho, que é uma mesa de oposição mas tem conduzido o conselho de uma forma muito positiva, muito harmônica e acredito que essas situações vão passar dentro em breve.
Se alguém quiser saber da minha dedicação exclusiva ao Bahia é só vir ao clube, pegar minha agenda com a secretaria e verificar se tenho condições de fazer qualquer outra coisa que não seja a dedicação exclusiva ao clube.
Pretendo parar de responder esse tipo de questão em mesa de conselho, porque pra mim isso é tentativa de criação de factóides desnecessários. Se alguém tiver alguma coisa pra tentar falar a respeito disso, não tem problema, tem todas as instâncias administrativas adequadas, espero que as pessoas tenham consciência e busquem fazer o que é bom para o Bahia, sem ficar tirando o foco do que importa que é a gestão do clube e o time em campo.

RELAÇÃO COM O PRESIDENTE

Relação muito boa, conversamos muito, a gente tem um perfil um pouco parecido, bem objetivo. Naturalmente tem algumas situações na relação com agentes fora do clube que um acaba sendo mais incisivo, então o outro tem que adotar um papel mais político. É natural, mas conversamos e temos uma visão do negocio bastante alinhada, dificilmente temos alguma divergência na forma de conduzir o clube.

REJEIÇÃO Á POUCA IDADE

Não. Na verdade fiquei muito surpreso positivamente quanto a isso. Vamos completar três meses de gestão e adotamos algumas medidas que na minha concepção são básicas, que qualquer gestor adotaria em qualquer empresa e as pessoas estão dando parabéns pelas coisas que estão sendo feitas no Bahia, mas não fizemos nada de extraordinário, a gente fez o certo, a questão era que o certo não costuma ser feito no futebol, então essa questão da idade não tem sido um problema, as pessoas tem nos tratado com todo respeito.
Isso é uma questão de reconstrução que estamos fazendo. Recuperar a credibilidade. Era comum o Bahia fazer proposta para entrar em acordo, pagar a primeira parcela e depois não honrar. Temos demandas judiciais em decorrência disso. O que temos feito é honrar os compromissos que assumimos. Mesmo tendo pouco tempo de gestão, o mercado tem visto que estamos fazendo, o que nos comprometemos, isso faz com acreditem em nós.
Não tenho sentido uma rejeição pela nossa idade, pelo contrário, acho que as pessoas entendem que isso é bom, que o futebol precisa de renovação, precisa de pessoas com a visão diferente, tem sido positivo. Outro aspecto da nossa gestão que vejo ser muito elogiado é o fato de eu e Marcelo termos dedicação exclusiva ao Esporte Clube Bahia e sermos remunerados por isso, o que permite uma condução muito mais interessante e eficaz. Quando se tem um problema basta vir na minha sala ou na de Marcelo, as coisas se resolvem, com mais facilidade, a gente não se esconde.

FAIR PLAY FINANCEIRO

Estamos atentos, temos ciência como funciona, na verdade isso já existe em São Paulo. O modelo não é o mais adequado para atingir o objetivo, pois o jogador tem que denunciar o clube e isso é complicado. O que posso dizer é que, na nossa gestão, o Bahia está em dia com suas obrigações, nos pagamos a remuneração dos atletas de forma conjunta (CLT e imagem), temos que fazer um grande esforço para isso mas estamos conseguindo. Na minha concepção essa legislação por si não vai resolver a questão do Fair Play financeiro, até porque isso é uma via de mão dupla e os jogadores tem que entender que a realidade não só do Bahia mas do Brasil não permite esses salários estratosféricos. As pessoas tem que ter responsabilidade e fazer contratos condizentes com a realidade, não apenas dos atletas, mas também do clube. Nós estamos conseguindo fazer isso aqui no Bahia, todos os contratos que nos firmamos esse ano são bem mais condizentes com a realidade do futebol brasileiro. Nós vamos sempre buscar honrar nossos compromissos para que o Bahia não corra risco de sofrer esse tipo de penalidade.

TÍTULOS

Assim como qualquer torcedor eu tenho a expectativa de ver o Bahia campeão brasileiro. Hoje temos uma realidade difícil, é uma realidade que a gente só vai alcançar com uma gestão profissional. É clichê, é nome de livro, mas de fato, a bola não entra por acaso. Temos que trabalhar, claro que a gente não entra em campo para fazer a bola entrar, mas treinamento ganha jogo, alimentação ganha jogo, fisiologia ganha jogo, preparo físico ganha jogo, nos temos que saber proporcionar aos jogadores toda essa estrutura. Os atletas tem que estar bem física e psicologicamente, eles precisam ter confiança na sua diretória , saber que vão receber em dia e que tudo que lhes for prometido vai ser cumprido. Isso faz toda diferença.

LEGADO DESSA GESTÃO

Concordo com Marcelo quando diz que o maior legado é a mudança de mentalidade do torcedor. Acho que essa mudança passa por diversos aspectos: hoje o torcedor gosta do time, se acontecer uma derrota o torcedor se revolta e não quer mais pagar, ou se um determinado jogador for titular o torcedor diz que não vai mais ao estádio. É essa mentalidade que está errada, o torcedor tem que gostar é da instituição. Além disso, não podemos nos acostumar com coisas pequenas, o Bahia pode mais, não posso afirmar que seremos campeões brasileiros daqui a três anos, nenhum dirigente pode afirmar isso. O que podemos fazer é implementar um filosofia empresarial.
Acredito que na prática o que podemos deixar de legado é deixar uma administração profissional, a instituição com organograma bem definido, um histórico de decisões técnicas tomadas por profissionais técnicos e sem indicação política, análise efetivamente qualitativa, como consequência disso, virão os resultados em campo e a mudança de mentalidade da torcida.

MENSAGEM À TORCIDA TRICOLOR

A torcida do Bahia é fantástica e tenho orgulho de fazer parte dela!
Uma coisa que sempre me emociona é o trailler do filme Bahia, minha vida! Tem uma chamada que fala “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” e tem que ser assim, um casamento! Sempre junto! O torcedor precisa ser o maior patrocinador do Bahia! Peço aos torcedores que Se associem e lutem junto conosco por um Bahia melhor!

Entrevista realizada por Rodrigo Menezes, Caio Noblat e Marcio Paiva